“Brasil estendeu a mão aos EUA sem garantia de retribuição”, diz especialista

O encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e seu homólogo norte-americano, Donald Trump, na terça-feira (19/03) rendeu uma discussão para além do alinhamento político projetado pelos dois líderes. No encontro, Bolsonaro confirmou o acordo de salvaguardas tecnológicas (AST) permitindo que os EUA façam o uso comercial do centro de lançamento de Alcântara, no Maranhão, além de eliminar a exigência de vistos para turistas norte-americanos conhecerem o Brasil.

Discursando à imprensa, Trump comentou o novo momento de aproximação vivido entre os países e projetou apoio para a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), além de “não descartar” uma possível integração oficial do Brasil na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), do qual apenas a Colômbia faz parte entre países latinos, como sócia regional desde 2018.

A troca, no entanto, foi desigual. Segundo Mauricio Fronzaglia, especialista em relações internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, a equipe presidencial volta de Washington sem “nenhuma garantia de contrapartida”.

“Nas relações internacionais é complicado quando não se segue o princípio da reciprocidade. Algumas concessões que o Brasil fez aos EUA não têm nenhuma garantia de contrapartida e isso talvez não seja bom para os interesses nacionais, tanto na questão do visto, quanto do etanol. O Brasil estendeu a mão sem a garantia de que será retribuído”, diz.

Quanto a uma possível entrada do Brasil na aliança militar intergovernamental, o especialista descreve como uma medida improvável. Atualmente, só países europeus fazem parte do bloco. “O que deve ser proposto ao Brasil deve ser um status de aliado norte-americano, algo que a Argentina já tem desde os anos 90. Uma cooperação militar um pouco mais estreita, que pode trazer benefícios. No entanto, aproximações ideológicas, muitas vezes, não são o melhor norte para se direcionar a política externa de um país”.

Maurício Fronzaglia

Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (1997), mestrado em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (2005) e doutorado em Ciência Politicai pela Universidade Estadual de Campinas (2011). Atualmente é professor (graduação e mestrado profissional em economia) da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas.

 

Sobre o Mackenzie

A Universidade Presbiteriana Mackenzie está entre as 100 melhores instituições de ensino da América Latina, segunda a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação.

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